Dando
continuidade, voltamos ao velho caderno do professor Munhoz, transcrevendo
ainda algumas de suas lembranças da cidade onde nasceu o hino nacional da França:
12) “Adorei o Museu de Belas-Artes de Marseille, no Palácio Longchamp, com uma
coleção fantástica de pequenas estátuas de Daumier; 13) Ouvi na Vila Bagatelle
magnífico recital de Claude Kahn, ele interpretando 24 Prelúdios de Chopin,
além de peças de Bach, Mozart e Liszt; 14) A caminho de Frioul, estive no Castelo
d’If, imortalizado por Alexandre Dumas no “Máscara de Ferro” e no “Conde de
Monte-Cristo”; 15) Almocei em Orange, “ritual de três horas”, na casa de uma
família amiga, depois admirando o Arco do Triunfo, construído em 49 a.C., e o
Teatro Antigo, muito bem conservado; 16) O Musée d’Histoire de Marseille possui
peças do tempo dos lígures, mostrando maravilhas da Marselha grega dos séculos
III e II a.C.; 17) No Jardin des Vestiges, um museu ao ar livre, me sentia na
Marseille dos primórdios; 18) Numa livraria do Centre Bourse, me invoquei com o
título de um livro de Bukowski: “L’amour est um chien de
l’enfer”; 19) Na Vieille Charité vi muitas exposições, uma delas me chamando a
atenção: “La mémoire d’Odessa”, revendo cenas do “Encouraçado Potenkin”, de
Einstein; 20) Uma exposição de John Coplans, “Autorretratos”, na Vieille
Charité, me deixou deprimido: o artista não passando de uma ruína humana; 21) E
como não sou de ferro, no Vieux-Port, nunca dispensei a “bouillabaisse, o prato
por excelência da região”. Na foto acima, o professor Munhoz com sua amiga
Rute, natural de Macapá diante do Palais LoungChamp, em Marseille, há 25 anos
atrás.
Nosso blog tem como objetivo publicar a trajetória de vida do Professor Munhoz em comemoração aos seus 84 anos dedicados à Educação e à Cultura. Autor do Blog:Professor Munhoz Responsável: (GRUPO ABEPORÁ DAS PALAVRAS)
84 ANOS DE ANTONIO MUNHOZ LOPES
quarta-feira, 18 de junho de 2014
SÃO JOSÉ DE ANCHIETA, NOSSO PRIMEIRO COMPOSITOR.
José
de Anchieta, há pouco canonizado, não foi apenas o nosso primeiro professor, o
nosso primeiro gramático, o nosso primeiro poeta e dramaturgo, mas também o
nosso primeiro compositor, não esquecendo que a música esteve historicamente
presente na formação da sociedade brasileira, os jesuítas transformando a arte
musical em um dos instrumentos da colonização, atraindo os índios
pedagogicamente com o canto, e tornando-se logicamente nos primeiros professores
de música do Brasil, sendo Anchieta o nosso primeiro compositor. O padre
Quirício Caxa recolheu em 1598, após a morte de Anchieta, tudo que ele havia
deixado, incluindo escritos de “Cantigas” devotas em tupi, que ele compôs para
que os jovens cantassem. Ao referir-se à atividade de Anchieta em São Vicente,
no período que se estende de 1553 a 1565, Simão de Vasconcelos, seu biógrafo,
após salientar que o venerável padre “em quatro línguas era destro _ na
portuguesa, castelhana, latina e brasílica”, acrescentava que “em todas elas traduziu
em romances pios, com muita graça e delicadeza, as cantigas profanas que
andavam em uso”. E para o lançamento dessas composições, sob o título de
“Canções de Anchieta”, existem na Biblioteca da Companhia de Jesus, em Roma, cópias
com os títulos de “A Nossa Senhora dos Prazeres”, “Santa Inês” e “Vaidades das
Coisas deste Mundo”, além de uma série intitulada “Cânticos Por o Sem Ventura”,
em original do próprio punho do sacerdote. Mas não esquecendo que
historicamente o primeiro lançamento de composições musicais com letras do
padre Anchieta foi o “Auto da Pregação Universal”, a primeira peça de teatro
encenada no Brasil, por volta de 1565. E acima, um quadro de Santo Anchieta, de
Oscar Pereira da Silva, também desenhista, decorador e professor brasileiro do
século XIX para o XX.
terça-feira, 10 de junho de 2014
SANTO ANTÔNIO, DOUTOR DA IGREJA
Dona Vina Marques, viúva do poeta português Manuel Correia Marques, vendo há muitos anos uma foto de um recanto da sala de visitas da casa do professor Munhoz, aqui em Macapá, com o "Santo Antônio" pintado em 1983, pelo padre Fulvio Giuliano, perguntou-lhe por carta: "O quadro é mesmo de Santo Antônio? Onde está o Menino?". Sem dúvida, a tela representa o taumaturgo nascido em Lisboa, e que morreu em Arcella, perto de Pádua, na Itália, no dia 13 de junho de 1231, depois de receber a extrema-unção, tendo apenas 41 anos. E o artista representa o santo com um livro e uma pena, lembrando o intelectual que ele foi e proclamado doutor da Igreja por Pio XII, em 16 de janeiro de 1946, devido à volumosa e sábia coleção de seus "Sermões", além de outros escritos que deixou para a posteridade. Antes de Pio XII, Gregório IX, que foi papa de 1227 a 1241, canonizou-o em 1232, denominando-o de "Arca dos Dois Testamentos", "Escrínio das Sagradas Escrituras" e "Martelo dos Hereges", entoando a antífona "O Doctor Optime!" Santo Antônio, dizem documento da época, não só possuía extraordinária cultura, como era dono de impressionante eloquência tendo sido professor na Universidade de Bolonha, a mais antiga do mundo, também ensinando nas universidades de Montpellier, Toulouse e Arles. Santo Antônio é um santo universal. E esteve certo Leão XIII, quando interrogado sobre qual das denominações deveria prevalecer: se "Santo Antônio de Pádua" ou "Santo Antônio de Lisboa". O papa limitou-se a responder: "Santo Antônio é o santo de todo o mundo". Acima, o "Santo Antônio, Doutor da Igreja", obra do padre Fulvio Giuliano, presente dos alunos do Seminário São Pio X, em 09 de dezembro de 1983, onde o mestre Munhoz foi professor de Latim e Literatura.
ENTRE ESCULTURAS DE STOCKINGER
Na manhã de 13 de janeiro de 2008, no jardim do Centro Cultural Correios, no Rio de Janeiro, o professor Munhoz visitou um grande exposição de Francisco Stockingr, escultor austro-brasileiro que, um ano depois em 12 de abril, em Porto Alegre, morria a poucos meses de completar 90 anos. Nascido em Traun, no dia 07 de agosto de 1919, na Austria, aos 03 anos e pouco emigrou com a família para o Brasil, em fevereiro de 1923, indo morar no município de Santo Anastácio, na fronteira de São Paulo com Mato Grosso. Depois viveu em São Paulo, transferindo-se em 1937 para o Rio de Janeiro. Foi por indicação do pintor Clóvis Graciano, que Stockinger iniciou seus estudos de escultura com Bruno Giorgi, no antigo Hospício da Praia Vermelha, na Cidade Maravilhosa. Benéfica foi sua convivência com Oswaldo Goeldi, Marcelo Grassmann e Maria Leontina. Em 1554, Stockinger transferiu-se para Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, onde trabalhou num jornal como paginador, caricaturista, ilustrador e cronista de humor. Em 31 de dezembro de 1958 naturalizou-se brasileiro, passando a viver só em função da arte, sendo em 1967 nomeado diretor do Museu de Arte do Rio Grande do Sul, depois acumulando a direção da Divisão de Artes do Departamento de Cultura da Secretaria de Educação e Cultura do Estado. Em 1994 recebeu o título de cidadão honorário de Porto Alegre e, em 1997, o prêmio do Ministério da Cultura, na área das artes plásticas. Realizou mais de 30 exposições individuais, além de ter participado de dezenas de mostras coletivas. Na foto acima, o professor Munhoz está entre duas esculturas da série "Gabirus", do artista, no Rio de Janeiro, em 2008.
ANCHIETA, O "APOSTOLO DO BRASIL", AGORA É SANTO
O beato José de Anchieta, um dos fundadores da cidade de São Paulo e figura-chave na construção do catolicismo na nossa terra, foi canonizado no dia 03 de abril, depois de 417 anos, num dos processos mais demorados da história da Igreja. Cognominado de "Apóstolo do Brasil", nasceu em La Laguna de Tenerife, nas Ilhas Canárias, Espanha, em 1534. Ingressou na Companhia de Jesus em 1551, com 17 anos, chegando ao Brasil com 19, na comitiva de D. Duarte da Costa, segundo Governador-Geral, em 1553. Como poeta foi o primeiro do nosso Quinhentismo, tendo publicado em 1595, em Coimbra, a sua "Arte de Gramática da Língua mais Usada na Costa do Brasil". Sua obra é ampla e multiforme, compreendendo poesias, peças teatrais, sermões, estudos linguísticos e fragmentos históricos, Sílvio Romero encontrando em suas cartas o que de artisticamente mais válido possui a sua obra. O "Auto da Pregação Universal", de sua autoria, escrito em português e tupi, é a primeira peça do teatro nacional, e foi apresentada ao ar livre, em Piratininga. Das inúmeras poesias, são dignas de menção "Ao Santíssimo Sacramento", com 46 quadras, e "A Santa Inês", reunindo sobriedade de expressão e lirismo. "De Beata Virgine Dei Matre Maria", escrito em Iperoig, nas areias da praia, em latim, conta com 5.786 versos. Anchieta morreu em Reritiba, no Espírito Santo, no dia 09 de junho de 1597, aos 63 anos, tendo vivido 47 anos na Companhia de Jesus: 03 em Portugal e 44 no Brasil. Acima, Anchieta, refém dos tamoios, escreve seu "Poema à Virgem", num quadro de Benedito Calixto, um dos grandes pintores do Brasil, do inicio do século XX.
segunda-feira, 26 de maio de 2014
RECORDAÇÕES DE MARSEILLE, EM 1989 (I)
De
um velho caderno do professor Munhoz, transcrevemos: 1) “No aeroporto de Marignane,
Rute e Jacques Marquion estavam à minha espera; 2) A maior surpresa: o pato no
tucupi no jantar, com jambu e farinha, tudo preparado por Rute que é amapaense;
3) Assisti missa na igreja de Saint-Ferréol, no Vieux-Port, onde no século XII
existia um convento de Templários; 4) Inesquecível: minha visita à Basílica de
Saint-Victor, sentindo nas criptas do V século o Cristianismo dos primórdios;
5) Na Igreja de Notre-Dame de La Garde, no alto da colina, contemplei a cidade
que tem mais de 2.600 anos; 6) Marseille, segundo a tradição, foi evangelizada
por Santa Maria Madalena, justificando o cartaz na entrada da Catedral, que
perguntava: “Terá sido Marseille evangelizada por uma mulher?”; 7) Estive em
Aubagne, vendo “Le Petit Monde de Marcel Pagnol”; 8) No Museu Cantini, vi uma
exposição de Edward Hopper, uma das maiores figuras da pintura americana do século
XX; 9) Numa livraria da Canebière, encontrei “Liens de famille”, da nossa
Clarice Lispector, livro de contos de 1960; 10) Ainda sobre a autora de “Perto
do coração selvagem”, encontro “L’heure de Clarice Lispector”, de Hélène Cixous; 11) A caminho de Toulon,
visitei La Ciotat, cognominada de “Berceau du Cinéma” pois foi ali que Louis
Lumière realizou seus primeiros filmes: “L’arroseur arrosé” e “L’arrivée d’um train en gare”. E, na foto
acima, o professor Munhoz está em Marseille, na tarde de 02 de julho de 1989,
ao lado de um vendedor ambulante, com um chapéu enfeitado de flores,
lembrando-lhe a música de Alípio Martins e Marcelle “Lá vai ele”, que tocava
muito num programa de seu aluno e amigo Hermínio Gurgel.
NA PEQUENA IGREJA DO CARPINTEIRO
Na Terra Santa, o professor
Munhoz nunca deixou de visitar a Igreja da Natividade, em Belém, e por último o
Santo Sepulcro, no fim da Via Dolorosa, em Jerusalém. Mas outro local de sua
predileção, em Nazaré, é a Basílica da Anunciação e, ao lado a pequena e
acolhedora Igreja de São José, reconstruída e 1914 e que a tradição aponta como
local da casa e da oficina de um humilde descendente do rei Davi, e que o Novo
Testamento afirma ter sido o esposo castíssimo de Maria e o pai adotivo de
Jesus Cristo. Sua festa litúrgica é celebrada em 19 de março e em 1º de maio é
lembrado como “Padroeiro dos Trabalhadores”. Os Evangelhos falam pouco de São
José, mas dizem o essencial, como São Mateus, na genealogia de Jesus, quando
afirma: “Jacó gerou José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus chamado
Cristo”, e assim como Jesus foi miraculosamente gerado, pois segundo São Lucas,
ao ser anunciado a Maria que seria a mãe do Cristo, ela argumentou: “Como é que
vai ser isso, se eu não conheço homem algum?”. Na fuga para o Egito, tanto
quanto para o retorno, um anjo se manifestou em sonho a José, ele o pai legal
do Menino. Segundo Gonzalo Aranda, do Departamento das Sagradas Escrituras da
Faculdade de Teologia da Universidade de Navarra, “o mais lógico é pensar em
São José como um homem jovem quando desposou Maria e que só foi casado com
ela”. Acima, o professor Munhoz em Nazaré, na baixa Galileia, na manhã de 23 de
outubro de 2010, em foto de Tito Dominguez Nuñez.
ALGUNS DOS MAIORES MUSEUS DO MUNDO
Sábado,
17 de maio, no programa “Debate Positivo”, de César Bernardo, na Rádio 102. FM,
o professor Munhoz lembrou a XII Semana Nacional de Museus, contando que o
primeiro que visitou ainda criança, em Belém do Pará, levado por seu pai, foi o
Museu Goeldi. O segundo, em São Paulo, foi o Masp, o que de melhor nos legou
Assis Chateaubriand, dono dos Diários e Emissoras Associados. Em junho de 1967,
o primeiro internacional foi em Washington, a National Gallery, onde viu também
pela primeira vez um quadro de Leonardo da Vinci, o “Retrato de Ginevra de’Benci”.
Desceu a por menores sobre os considerados quatro maiores do mundo: o Louvre,
em Paris, com a “Vênus de Milo”, a “Vitória de Samotrácia” e a “Mona Lisa”. Do
Museu do Prado, em Madri, lembrou Goya, El Greco, Zurbarán e Murilo, além das “Meninas”,
de Velázquez. Do Metropolitan, de Nova York, disse que é um mundo e outro mundo
é o Hermitage, em São Pertersburgo, na Rússia, com 2.938.638 peças, incluindo a
“Virgem Benois” e a “Virgem Litta”, ambas de Leonardo da Vinci. Citou obras-primas
do Museu do Vaticano; e do Museu Britânico, em Londres, descreveu a Pedra de
Roseta, descoberta por soldados de Napoleão, em 1799, com suas três línguas: o
grego, o demótico e os hieróglifos, de caráter sacerdotal. Citou algumas obras-primas
do Museu degli Uffizi, em Florença, e da Galleria Pitti não esqueceu do Jardim
de Boboli, com o famoso Baco, que se vê acima. Do Rijksmuseum, de Amsterdã,
citou o quadro mais importante: “A Ronda Noturna”, de Rembrandt; e do Rainha
Sofia, em Madri, a obra mais famosa, a “Guernica”, de Picasso. Foram alguns dos
mais de 300 que ele conhece no mundo inteiro.
quarta-feira, 21 de maio de 2014
SETE ANOS DA MORTE DO PADRE FULVIO
Numa carta escrita no dia 09 de junho de 2007, aqui em Macapá,
e mandada para seu amigo Tito Dominguez Nuñez, em Belém, o professor Munhoz
dizia: “Acabo de perder um grande amigo, num hospital de Gênova, na Itália. Sim,
morreu o padre Fulvio Giuliano, que eu conheci, quando aqui chegou, no dia de São
Pedro, em junho de 1962. Na travessia para o Brasil, que durou 16 dias, pintou
diversas telas em pleno Oceano. E lembro do convite que fiz para que participasse
do I Salão de Artes Plásticas do Amapá, levando-o também ao I Salão de Artes
Plásticas da Universidade do Pará, recebendo “Menção Honrosa” com a tela “Arraial
de Nazaré em Macapá”, hoje desaparecida. Participou do II Salão, em 1966. No III,
em 1967, apresentou três obras: “Escada de Jacó”, “Lava-pés” e “Passagem do Mar
Vermelho”. No I Salão do Colégio Amapaense chamaram a atenção os 14 quadros da
Via-Sacra, tendo sido o ponto alto da mostra. O ápice, todavia, foi a
retrospectiva que realizei de tudo que ele até então havia feito,
sobressaindo-se o “São João Crisóstomo” e o “Santo Antônio, Doutor da Igreja,
de 09 de dezembro de 1983, presente dos alunos do Seminário São Pio X, onde fui
professor de latim”. Na sua última vinda a Macapá, o padre Fulvio trouxe de
presente para o seu amigo o belo ícone “Redemptoris Mater”, que é hoje uma das
preciosidades do seu acervo. E acima vemos o professor Munhoz, na tarde de 25
de março de 2007, na biblioteca de sua casa, com o ícone que o padre Fulvio
pintou em Monza, na Itália, em foto de Ângelo Carvalho Costa.
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