84 ANOS DE ANTONIO MUNHOZ LOPES

84 ANOS DE ANTONIO MUNHOZ LOPES
NO DIA 12-02-2012, NO RESTÔ DO PARQUE, EM BELÉM DO PARÁ, O PLANETA TERRA FICOU PEQUENO PARA SUPORTAR TANTA ALEGRIA PARA FESTEJAR OS 80 ANOS DE NOSSO QUERIDO MESTRE. UMA BELÍSSIMA HOMENAGEM DE SEUS FAMILIARES E CONVIDADOS. O MUNDO NAS MÃOS DO MUNHOZ!

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

CRÔNICA.

CRÔNICA DO PROFESSOR MUNHOZ , ESCRITA  EM OURO PRETO-MG, EM JULHO DE 1962 E PUBLICADA NO JORNAL  MENSAGEM DO AMAPÁ, NO DIA 30 DE AGOSTO DE 1962

VILA-RICA, MARÍLIA E DIRCEU

Não como o lobo silencioso de Vigny, buscando a dignidade da morte, mas, sim, buscando a alegria da vida, aqui estou. Entretanto, esses becos todos, essas vielas, essas ruas entalhadas na montanha, essas ladeiras medonhas e cansativas, essas pontes e casas ancestrais, esses velhos chafarizes, essas igrejas vestutas, milagres de paciência e bom gosto, tudo isto me cheira a bafio, a sangue, lágrimas e dor. Essa é a cidade, como diz Eponina Ruas, em que cada pedra ressoa um hino, e em que cada  uma delas expressa um gemido dos látegos que a mísera escravatura recebeu, calada e revolta. O próprio povo parece fantasmas de uma época já morta. Aquela macróbia, lavando roupa ao lado da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, quando lhe fui perguntar onde ficava o túmulo de Guignard, com sua cara de múmia, é, talvez, uma coetânea de Antônio Dias ou de Cláudio Manoel da Costa, dos idos de 1698 ou 1789. Ainda hoje, em Ouro Preto, vive-se no passado e do passado. Donde estou, vejo a casa de Gonzaga. Penso nos seus amores com Marília: Ele, homem maduro; ela garota de dezesseis anos, de quem fica noivo. Um mar de rosas, Mas, quando menos se espera, vem a tragédia, Faltando apenas um mês para o casamento, tudo pronto, o poeta é denunciado como conspirador; preso, é transportado para a fortaleza da Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, donde só saiu anos depois, e isto mesmo, para o exilio, em Moçambique, onde viveu até o fim de sua vida, pois esgotado o prazo do desterro, lá ficara casado com uma senhora “de muita fortuna e poucas letras”. E a doce Marília? Maria Dorotéia Joaquina de Seixas, fidelíssima, morreu solteira, aos 86 anos. Não conheço, pormenorizadamente, sua vida. Mas suponho seus dias, depois da partida do ouvidor, tristonhos, pesados, frios e sem graça. Daqui do alto desta colina, bem em frente à Igreja de Nossa Senhora das Mercês dos Perdões, diviso o local do antigo solar dos Ferrões, onde viveu e curtiu a sua longa solitude. São seis horas. Os sinos bimbalham. O Itacolomi, como um dedo em riste, aponta para o céu. E de costas para o Palácio dos Governadores, no ápice do seu desprezo pela tirania do poder, o protomártir da nossa Independência.






Carta de Benedito Alcântara em Homenagem ao Professor Munhoz!


ANTES QUE EXPULSEM DA SALA A


 MEMÓRIA DA GRATIDÃO


                CARÍSSIMO PROFESSOR MUNHOZ,

Antes que minha memória seja abduzida para um poço sem fim
Antes que meu coração seja empedrado pelas fúteis vaidades
Antes que minha língua endureça num silêncio forjado
Antes que revisem minha trajetória existencial
Antes que meus olhos não possam mais te identificar
Antes que arranquem meus braços, minhas mãos, meu sorriso.

                Antes que não possas mais caminhar silenciosamente pelas ruas de Macapá
                Antes que não possas mais adentrar nas liturgias da Catedral de S. José
                Antes que não possas mais proclamar as crônicas das tuas andanças
                Antes que não possas mais comentar e questionar a vida humana
                Antes que não possas mais explodir em   saborosas  gargalhadas
                Antes que não possas mais banquetear-se  com nossas comidas típicas.

                                               Antes que te expulsem de qualquer sala
                                               Antes que te esqueçam  hipocritamente em uma solenidade
                                               Antes que te forcem a voltar para a terra  paraoara
                                               Antes que tirem da lista de convidados de uma formatura
                                               Antes que te olvidem dos eventos culturais
                                               Antes que te chamem de ultrapassado e fora de moda.

Antes que...
Antes de tudo isso...

Permita professor querido, proclamar ao mundo, deixar registrado, como testemunho sincero de um ex-aluno do tempo do Colégio Amapaense, anos 1977-1978-1979,  agradecer  imensamente porque Deus permitiu que um anjo seu viesse em nosso auxílio, deixar indeléveis marcas em nosso caráter, em nossa formação, em nossa visão de mundo e sociedade.

Quero testemunhar que, se hoje estou em sala, foi por causa sim de sua impetuosidade em nos ensinar a Língua Portuguesa e Literatura, como uma verdadeira viagem pelos quatro cantos do mundo, levando-me, imberbe jovem, a optar pela cátedra de história, com o sonho de trilhar as veredas dos lugares e adentrar nas facetas humanas de cada paragem.

Terno Mestre, não tinha como faltar às suas aulas, não tinha como não aproveitar cada minuto, não tinha como estudar por estudar, pois nos atiçavas para abraçar as  aventuras da vida  que a maturidade nos reservava.

No tosco espaço da sala de aula, ciceroneaste nossa curiosidade pelos diversos países, seduzindo-nos para os continentes, os povos e seus costumes, tudo aquilo que de mais belo e singelo o ser humano é capaz de construir.

Enfim, lá fomos nós para o chamado nível superior, sem cursinhos ou meros desafios, apenas com o que comemos e bebemos contigo e outros mestres. Era hora de partir, deixar a terrinha, deixar a família, adentrar nos mares nunca dantes navegados (por nós), não mais como expectadores e sim como atores principais.

Atravessei o Brasil, para o Sul distante e diferente. Depois para o Rio de Janeiro, dantesco e acolhedor. Mais tarde para a América Central, na Nicarágua querida. Até que, com a morte do meu pai Leandro, lá estava em missão por El Salvador e Guatemala, entre os fuzis e helicópteros da guerra maldita, larguei tudo e voltei para os meus,  mais precisamente para ficar com minha mãezinha Maria até os seus últimos dias.

E por aqui fiquei, casei, vieram os filhos, sempre estudando, sempre peregrinando  em sala de aula, envolvido em tantas atividades. E com o privilégio de te encontrar, na maioria das vezes, em nossas ruas e avenidas. E lá ficávamos a conversar, com o tempo parando para nós e correndo para quem nos acompanhava.

Assim vamos atravessando os sertões de nossas existências, eu também já trazendo meus cabelos brancos, que um dia espero que fiquem como os  seus : cálidos e misteriosos.

Permaneço com a  tenacidade de a cada dia adentrar nas salas de aula, desde a 5ª série até o  Ensino Superior. E sempre, sempre, a cada ano, a cada período letivo, citar teu nome para os que hoje me chamam de professor. Recordando cada aula, cada narrativa de suas viagens, cada comentário, que se alojaram dentro de meu coração e que lá permanecerão ad aeternum.

Professor querido, em nome de toda a minha família de irmãos e irmãs que também foram teus alunos, em nome de todos os colegas de todas as turmas do “Colégio Padrão”, quero externar nosso sincero e singelo agradecimento 
por teres adentrado em nossa formação, em nossas vidas.

Professor querido, valeu  e vale demais saber que tu vieste e permaneceste no meio de nós, desde ontem e para sempre, franciscanamente  único-total-puro-universal. Tão absorto em suas meditações, tão generoso em suas reflexões, tão de tantos rostos e lugares e, maravilhosamente, tão nosso !

Neste dia, dedicado ao professor, antes que tudo desapareça ou desabe, ou que tudo possa ser mudado e esquecido, que eu possa registrar  e proclamar, ao Mestre, com carinho, ao querido Professor Antônio Munhoz Lopes : VALEU !



Macapá, 15 de Outubro de 2008.

3 comentários :

  1. E uma grande felicidade ver o nosso professor Munhoz na rede e estamos ansiosos para publicar suas crônicas de viagens. Eu costumo dizer que ele é o nosso Fernão Lopes da atualidade.

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  2. Que bom ter esta grande figura em rede mundial, ele viajante que é, não poderia haver homenagem maior a este verdadeiro cidadão do mundo - Antônio Munhoz. Eu tive à oportunidade de ser seu aluno na Escola de Arte Cândido Portinari e seu colega de trabalho no Colégio Objetivo. (Eu te escuto todos os sábados professor!)
    Por: Roberto Ferreira - Santana/AP

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  3. Meu caro Roberto: Acabo de descobrir que foi um ex-aluno, Haroldo Franco, o primeiro a me chamar de "Cidadão do Mundo", numa entrevista no "Jornal do Povo", no domingo, 4 de dezembro de 1977. E se você foi meu aluno na Escola de Arte Cândido Portinari, deve ser, sem duvida, um amante das artes. E se me escuta todos os sábados, como diz, no "Debate Positivo", com o Amigo César Bernardo deve perceber que tudo aquilo que digo é um prolongamento de minhas aulas, sempre falando de arte, de beleza,viagens, enfim, de tudo aquilo que dá mais sentido à vida, fazendo do nosso ramerrão cotidiano. Agradeço a generosidade de suas palavras e não esqueça de que a cultura enobrece mas o homem.

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